A ÁGUA É MODESTA

Segundo artigo da série baseada na leitura do livro “A Sabedoria da Natureza: Taoísmo, I Ching, Zen e os  ensinamentos essênios”, de Roberto Otsu. * 

Por Alexsandra Machado 

29.09.2024 

Alguns de nós ambicionamos chegar ao alto escalão da hierarquia empresarial, no entanto nos  equivocamos em pensar que chegar aí é o fim, teremos regalias, seremos mais servidos do que  serviremos. Analisar a água e suas características nos traz ensinamentos e nos inspira a sermos sábios no  exercício da liderança especialmente porque, aí desse lugar, temos mais que servir que ser servidos. 

Obviamente que sei sobre quão fundamental é a água para a nossa sobrevivência, mas quando li que a  água é base líquida para o sangue e para as secreções, foi como um insight, que me trouxe mais  profundidade no entendimento da sua essencialidade e de como se comporta diante dela. Humilde e modesta, a água não se vangloria, não “se acha”, não quer estar no holofote, não faz questão de ser a  camisa 10 do time que faz o gol sempre e corre para o abraço e para a foto que ficará estampada nos  jornais no dia seguinte.  

A água é instrumento, é canal, e faz tudo isso em silêncio. Ela é o que é e ponto final. A única questão  que faz é de cumprir com a sua missão, que é servir. Deixando-se fluir, não resistindo aos obstáculos,  seguindo pelo caminho mais fácil, acumulando para depois achar por onde escorrer, chega  humildemente, até o oceano que, em sua imensidão, é o lugar mais baixo. “O oceano é grande porque  fica no lugar mais baixo.” (p. 50). 

Olha que interessante: as águas que ficam no topo da montanha estão em forma de gelo. Estão ali  rígidas, frias, não estão nesse movimento de fluidez e de senso de serviço. E se transpusermos essa  imagem figurativa para alguns executivos no mundo corporativo? 

A fluidez e o servir são características muito encontradas nos profissionais que se veem como seres  integrais, ou seja, que investem no autoconhecimento. O líder que está no processo do  autoconhecimento (porque esse processo tem data e hora para começar, mas não tem data para acabar,  é um caminho sem volta) é bom para si, para os outros e para a empresa. 

Um dos frutos do processo de autoconhecimento é a descoberta da sua missão de vida. Um líder que se  interioriza e encontra esse “veio”, tende a fluir melhor nos ambientes, a ter relações interpessoais mais  leves e substanciais, a ser instrumento de desenvolvimento do seu time, a ser mais criativo, a ser canal  de transmissão de uma cultura de uma empresa, por exemplo, porque se conhece, está nela, acredita  nela e, portanto, tem mais magnetismo quando a transmite, é a famosa frase “walk the talk”. 

“E servir significa beneficiar, usar nosso talento e nossos conhecimentos para colaborar para o  desenvolvimento da humanidade. Servir é ser um instrumento dos valores mais elevados da vida, a  Sabedoria, a Paz, o Humanismo e a reverência à Natureza.” (p. 52) 

Ambicionar ter uma posição de liderança é permitido a todos, mas do senso de servir somos  inescapáveis, assim como toda água desagua no mar.

*Otsu, Roberto. A sabedoria da natureza : Taoísmo, I Ching, Zen e os ensinamentos essênios / Roberto  Otsu. 6. ed. – São Paulo : Ágora, 2019.

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