A NATUREZA NÃO “QUEIMA ETAPAS”

Terceiro artigo da série baseada na leitura do livro “A Sabedoria da Natureza: Taoísmo, I Ching, Zen e os ensinamentos essênios”, de Roberto Otsu. *
Por Alexsandra Machado 21.09.2024


Como disse no primeiro artigo dessa série, além de questões pessoais, muito do que vivo, testemunho e observo no campo profissional guiou minha interpretação sobre várias das lições da Natureza trazidas por Roberto Otsu em seu livro.


Ao mesmo tempo que estava lendo, comecei o curso “Viver no Campo”, ministrado por João Rockett, fundador e diretor do Instituto de Permacultura da Pampa – IPEP e Tatiana Cavaçana, Dirigente do IPEP, ambos permacultores, com os quais estou me oportunizando abrir meus horizontes para me entender melhor e o meu entorno, através do entendimento da Natureza, que afinal somos nós mesmos, como disse no primeiro artigo e repito.


Quando li o capítulo sobre as lições da árvore, fiz uma analogia da nossa carreira e do nosso desenvolvimento profissional ao crescimento do tronco de uma árvore. Se observado a partir de um corte transversal, se verá que ele é formado por camadas ou círculos, partindo de um centro, pequeno, para camadas, círculos que vão aumentando até chegar ao último, que é a parte externa, a qual visualizamos.


Esse formato segue o padrão da natureza chamado de concêntrico, o que quer dizer que um tronco nasce de dentro para fora. Quanto mais camadas tem um tronco, mais idade tem a árvore. Cada círculo representa um ano de vida. Assim é que os biólogos conseguem determinar a idade de uma árvore. Em analogia, pessoas mais experientes profissionalmente são como os troncos mais largos.


Contudo, essa jornada de crescimento não é linear, um círculo não está equidistante do outro. Quanto mais uma camada está afastada da sua próxima, é sinal de que naquele ano as chuvas foram maiores que em outros. Quando os círculos estão uns mais próximos aos outros, é sinal de que a oferta de água foi menor naquele ano. Ou seja, a chuva no nosso desenvolvimento profissional representa nossa formação: uma língua estrangeira que aprendemos ou ganhamos fluência, as experiências práticas que vivemos, as pessoas com as quais nos relacionamos, os desafios que nos são postos… Os desafios nos nutrem! Enfim, tudo contribui.

Todavia, não estamos todos os anos das nossas vidas profissionais sendo nutridos na mesma medida. Há anos em que “bombamos”, obtemos aumento salarial, somos promovidos. Há outros que não, que não rendemos tanto, não performamos bem, ou, simplesmente, entregamos o nosso “job description”. Faz parte! Não vê que na Natureza também é assim? Por que seríamos diferentes se somos ela?


Além de não ser linear, o nosso crescimento respeita ciclos. A cada primavera uma camada nova se constitui. Não há salto, lacuna ou rompimento. Roberto Otsu nos traz: “O processo de crescimento é em etapas e por conclusões de ciclos, e não por saltos. A Natureza não ‘queima etapas’, ela segue o processo sem pressa e conclui uma fase antes de iniciar outra. Para isso, é preciso tempo.” (p. 133)


Em parágrafo anterior, ele compartilha: “… uma nova camada só pode ser acrescentada se a anterior já tiver sido formada. Só se constrói em cima de algo já existente, já consolidado.
Não existe lacuna entre os anéis do tronco. Isso demonstra que existem pré-requisitos para o nosso desenvolvimento. Não é possível ir para camadas superiores pulando etapas, pois, se houver algum vão, não existirá base sobre a qual se possa acrescentar uma nova camada.” (p. 133)


Um dos dilemas de diversos gestores e profissionais da área de Recursos Humanos atualmente é como conformar essa ordem, esse padrão natural, aos anseios das novas gerações, que, de forma geral, querem ascender na carreira rápido, mas sem o conhecimento e experiência necessários, pulando etapas, não fechando ciclos.


Quem sabe essa analogia não venha a auxiliar e enriquecer as interações e diálogos sobre desenvolvimento de carreira, feedback, com pessoas dessa nova geração nos trazendo à conexão com a nossa mãe fundadora, a Natureza?


*Otsu, Roberto. A sabedoria da natureza : Taoísmo, I Ching, Zen e os ensinamentos essênios / Roberto Otsu. 6. ed. – São Paulo : Ágora, 2019.

Mais inspirações!

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